sábado, 21 de setembro de 2013

Faço 50

Faço cinquenta anos e a pergunta que me apetece fazer é:
Qual seria a tua idade se não soubesses quantos anos tens?

A facilidade que seria responder que todo o mundo diz que não aparento a minha idade... nas tenho-a, e sinto-a bem real nos achaques que não vão embora com a facilidade que tinha aquando dos vintes. 

Faço cinquenta, e não os vejo como o cliché do marcante passar meio século, nem me revejo na imagem difusa de criança que visualizava esta idade já envolta em entorpecidas rendas e olências cânforadas. Será um dia como os outros? Não. Eu adoro fazer anos. É sempre um dia especial.
Acontece que desta vez é estranho. Eu sou uma pessoa intensa - só sei pintar da cor que enche tudo - não passei pela vida incólume e esta entrada numa nova década que deveria ser marcante, que não me diz nada por antecipação, mesmo sendo arredia a qualquer lugar-comum, arrasta-me para um amargo sabor de desenxabido guião inacabado.
Penso que vou deixar-me ir.

Certamente que se em 50 anos não fui nunca de me preocupar com o futuro, não será agora que terei essa filosofia de vida.
Com os quarenta, a maturidade aterrou, mas não foi ao soprar velas, nem pela passagem de um dia no calendário setembrino. Foi chegando, enroscando-se sem avisar e chega-te para lá que me instalei. Eu cresci. Sem pressas, sem tumultos. Um dia dei-me conta que a tal criança interior de que tantos falam em reter, já não era mais pirralha. Foi um processo tão natural como bonito.
Com os cinquenta, e já que expectante não estou, presumo que seja a época de aproveitar a vida. Definitivamente esse seria o desejo, caso soprasse velinhas.
Paz. É um desejo interior e antiguinho. A sugestão de estar descalça no corpo todo, agrada à pirralha que cresceu.
Porque mesmo sabendo que faço cinquenta, se não o soubesse, possivelmente situaria a minha idade noutra faixa etária. Talvez porque a Ana-Mãe prevalece à Ana-Mulher, até à Ana-Profissional e essa preponderância faz com que haja ainda muita estrada para caminhar, desafios a concretizar, vida a ser vivida.
É o que anseio. Tempo com qualidade para o poder, por fim, fazer.




terça-feira, 4 de junho de 2013

Laurinha Linda na Cozinha

Era então uma das muitas vezes que uma menina de grandes olhos azuis correu até à horta, voltando a abanicar pela rama, uma mão cheia de cenouras. "Mãeee," perguntou ao chegar, erguendo o braço e espalhando a terra pelo chão da cozinha, "só lá tinha estas cenourinhas, será que chegam?"  
Laurinha queria fazer um bolo para a bisavó do cabelinho branco, uma receita que tinham visto imagens na net e tinha a ideia de fazer umas lindas flores de amêndoa por cima do bolo. A Mãe declarou que seria apenas a ajudante de cozinha nesta grande empreitada e a Laurinha assentiu com um sorriso malandro.  



Tarte de Cenoura e Amêndoa 

Ingredientes: 

• 300g de cenouras tenras
• 300g de miolo de amêndoa
• 4 ovos separados
• 175g de açúcar
• 80g de farinha com fermento
• sal fino
• manteiga e farinha para a forma
• açúcar em pó
• amêndoa para o final


Preparação:
Raspe, lave e rale as cenouras. Escalde a amêndoa, pele e enxugue bem no forno. Pique finamente.
Bata as gemas com o açúcar e quando espumarem junte a cenoura ralada, a farinha e a amêndoa picada. Bata as claras em castelo com uma pitada de sal fino e, misturando, incorpore-as ao composto anterior. Deite a massa numa forma de tarte com fundo amovível, previamente barrada com manteiga e polvilhada com farinha. Leve ao forno pré-aquecido a 180°C, durante cerca de uma hora. Deixe amornar antes de desenformar. Polvilhe com açúcar em pó e amêndoa filetada.
Nota: Corte a amêndoa em lâminas para a decoração e toste-a ligeiramente no forno, em tabuleiro próprio. 

Fonte: Ler tudo aqui 
               

domingo, 10 de março de 2013

Um namoro simples






Para o micro-conto deste mês venho falar de como estou encantada pela cor que sempre evitei... o vermelhinho, é verdade, as meninas até brincam que estou doente, mas gente!!, eu estou é apaixonada!!! 

por Ana Martins © 

Ele viu-a primeiro, reconheceu-a pela cor, adivinhou-lhe a essência e atrevido avançou. Ela, papoila distraída na cor inusitada, nem se deu conta de como a rodeou, mas quando reparou, gostou. Ensaiaram uma dança silenciosa sem fim à vista, volteando enroscados numa harmoniosa clave de sol. Ela nunca havia experimentado conjugar a sua luxuriante esmaltação com o tom de um baton vibrante. Ele era ela e ela igual a ele, unidos na tonalidade sensual de um vermelho vivo com sabor doce na vontade de simplesmente continuar.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Espetadas de perú reinventadas

Dedico esta receita aos voluntários Ercília, Maria do Rosário e Baltazar, e sim, também à Dra. Ângela 


Há dias assim. Estamos mais em baixo, as horas passam, tudo se vai complicando e parece não haver solução, até reparamos na hora de fazer o jantar que o vaso do cebolinho que tanto estimávamos nos abandona. Desistir? Murchar como um cebolinho amuado pela falta de sol na vida dele? Eu não penso assim. Ergo os olhos para o céu incrivelmente azul turquesa, respiro fundo e sei que Ele não me abandona, fala comigo numa palavra amiga, num sorriso, num abracinho, que sempre vem junto de cada saco da ajuda alimentar que recebo. E não deixo de agradecer nunca, por uma ajuda que jamais pensei ter de recorrer, habituada a comprar os meus ingredientes saudáveis, sem olhar ao preço, mas apenas à qualidade, ao que como diz o povo, me 'enchia o olho' de tanto que para mim é prazenteiro o acto de cozinhar. 
Hoje vejo-me limitada a alimentos que não posso apenas chamar de básicos, por vezes são dados ingredientes que jamais teria comprado, contudo não desisto deles à partida. Sempre tive o hábito - apesar de comprar para ter tudo em casa - de aproveitar ou inventar como misturar elementos e, nessa alquimia, descobrir novos paladares. 
Sim, é uma atitude positiva, como o cliché batido do copo de água meio cheio, ou de olhar uma maçã reineta que ao invés de a pensar como meia podre, imagino-a, sem o pedaço estragado, num pires, generosamente polvilhada com açúcar por cima e um pau de canela no buraco descaroçado, depois de um só minuto no microondas. É uma deliciosa e rápida maçã assada... e só o odor malicioso desta analogia me faz sorrir. 
Custa-me imenso ouvir as pessoas dizerem estarem cansadas de comer sempre o mesmo, estando elas no plano de ajuda alimentar, ou sendo amigas nossas, a reclamarem de cansadas de fazerem bifes com batatas fritas para os filhos... afinal de contas, um bife não tem de ser apenas frito ou grelhado, tem tanta possibilidade!, os mesmos ingredientes de base podem ser agradavelmente mudados de cenário se olharmos para eles com um olhar diferente! 
Então abro a porta do frigorífico, e vejo o que tem de ser consumido primeiro. Hoje em dia é a minha prioridade: não perder ingredientes. Tinha descongelado uma embalagem de espetadas de perú e queria repensá-la à ideia de apenas as grelhar, até porque é um excesso desnecessário de carne que pode render muitas refeições se for gerida com inteligência. Vamos aos ingredientes que usei na confecção deste jantar: 

espetadas de perú 
batatas 
alho 
cebola 
aipo 
gengibre 
tomate
manga 
malagueta
cebolinho 
pau canela 
vinho branco 
sumo de lima 

A primeira coisa que me chamou a atenção olhando para as prateleiras do frigorífico, foram o tomate maduro demais para salada e a manga amolgada de tão madura. Não apetece consumir em cru, mas são óptimos para cozinhar. 
A gula não me deixou esquecer as batatas que a minha amiga Luísa me dá da horta do pai... são as batatas mais saborosas do mundo! Juntei ao estrugido para além do fio de azeite, cebola e alho, mais alguns legumes de que não dispenso se os tiver em casa, como pimento, gengibre e aipo (que a D. Ercília nunca esquece que eu gosto muito). Como não tinha pimento,  aproveitei os quadradinhos das espetadas. Depois de deixar o estrugido lourinho, juntei só alguns dos cubinhos de carne cortadinhos ainda mais pequenos (gosto de os colocar bite-size, ou seja já do tamanho pronto a comer), e depois da carne já selada, temperei com sal, malagueta, pitada de paprika, o pau de canela e rodelas finas de gengibre. Refresquei com o vinho e juntei as batatas em rodelas finas, e o tomate e a manga meio picados, meio esmagados. Aproveitei todo o suco de ambos, que deitaram por estarem demasiado maduros. Coloquei a tampa e deixei que cozinhasse bem abafado. Detalhe - se tivesse cogumelos, teria colocado com certeza nesta mistura de ingredientes! No final, já com o lume desligado antes de servir, espremi o sumo de uma lima e envolvi tudo de novo. 
Empratei com uma rodela de lima e o pau de canela (bonitinho para a produção fotográfica eheheh) e, num momento iluminado do dia, peguei na tesoura de cozinha e acabei com a tristeza do vaso de cebolinho em pequenos pedacinhos que deixei cair gentilmente sobre o prato. 


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Chá das cinco

Para o micro-conto deste mês, proponho-me brincar com o som das palavras quase-poema, quase-história infantil: e se os nossos dedos tivessem vida própria? funcionassem por cores? como seriam os seus? achei este um bom tom para inventaricar um micro-conto esmaltístico!! Espero que gostem desta aventura meio-doida com um irreverente toque de criatividade na ponta dos dedos :-)
por Ana Martins ©

Não pareciam filhas da mesma mão, cada uma com sua personalidade, com sua atitude, com sua cor. A caguenta média-altaneira, sempre de nariz no ar, era snob, era arrogante, a mais velha, irritante de petulante. Contrastava com a sua doce irmã aneleira-casamenteira, a que ruborizaricava romanticamente a cada desafecto caguilento da média-altaneira.
Sem brincadeira, mas sempre salva pela pispineta e pigmentada indicadoreira, bafejando na linda corneta azulejadada de brilhante defendedeira. Ousava gritar sem levantar o tom de sua razão.
Tinha em contraposição o nu azedume da polegarezeta, desvalida em cor e presença, sombra rastejante oponível à sincera frontalidade da indicadoreira, era incessantemente avinagrada, na opinião e no trato. Já a gótica caçula mindindinhozinha rejubilava em plena alegria enquanto aplainava as constantes guerrilhas das irmãs. Saltitava harmoniosamente entre as discrepantes pessoalidades, dos atinos aos fornicoques ousados, e bastava a todas uma pequena passagem de poção mágica da maninha gótica com alma de grilo-falante para logo reaverem a cadência ritmada da estabilidade manuseável a cada novo chá das cinco.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Allie e Zoe

por Ana Martins © 

Allie, a borboleta irreverente, queria ter brilhantes pintinhas em azul e verde, queria crescer com brilho holográfico quando adejasse sob o sol – já na sua crisálida materna era o seu desejo. Mas quis a mãe natureza e seus genes que fosse apenas azul. Allie mirava sua irmã Zoe, a borboleta acomodada, esvoaçando fosca, trajada de verde lima sobre o rectângulo verde intenso do relvado. Sabia-se mais vistosa, mas nada era suficiente no reino vegetativo do campo a que não dava a menor bola, queria porque queria um manto holográfico que a cobrisse de brilho e a cada movimento captasse todo o espectro resplandecente do arco-íris. Almejava que o clamor do aplauso fosse para si, não para um qualquer time que se apresentasse no relvado. Não compreendia como Zoe se sentia feliz adejando sem parar quase desaparecendo sobre a vegetação, sem destaque, colorido ou luminosidade. Contudo, amava-a.
Um dia aventurou-se e voou para fora do limite quadrado que sua pequena vida tinha, e entrou no portal de uma tribo discobóllica.
Depois de esvoaçaricar dia e noite embriagada sob tanta holografaricagem, uma noite mais taciturna voltou no rectângulo verde e procurou sua irmã. Incitou Zoe para a acompanhar, contando-lhe de suas aventuras, sensações e emoções. E sim, confessando-lhe por fim que tanto brilho sem a doce companhia de sua amada Zoe, jamais seria uma comoção plena, que desejara muito que o mesmo véu de felicidade holográfica as abraçasse, mas que principalmente voassem juntas para a eternidade. Zoe sorriu e revelou não sentir o anelo de exposição vital como sua irmã, mas como toda a saudade que sentira de Allie, isso sim, a corroía. Abraçaram-se enternecidas e juntas partiram adejaricando rumo a um novo portal.



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Cogumelos Recheados

Depois da mesa de Natal não sabe o que fazer com tanto que colocou na mesa e não sabe como reaproveitar? Aqui fica uma sugestão para o excedente  do prato de enchidos e da tábua de queijos.

INGREDIENTES 

cogumelos para assar 
presunto 
salpicão 
painho 
queijo de serpa 
cebolinho 
natas ácidas 


Retire o caule dos cogumelos da campânula (que dispõe num tabuleiro) e pique-os, bem como os restantes ingredientes. Encha as campânulas com o recheio obtido e coloque um quadradinho de queijo sobre cada cogumelo. regue com as natas temperadas e leve ao forno.
Sirva quente como entradinha, ou então se quiser uma refeição leve, acompanhe com salada como prato principal.