quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Cogumelos Recheados

Depois da mesa de Natal não sabe o que fazer com tanto que colocou na mesa e não sabe como reaproveitar? Aqui fica uma sugestão para o excedente  do prato de enchidos e da tábua de queijos.

INGREDIENTES 

cogumelos para assar 
presunto 
salpicão 
painho 
queijo de serpa 
cebolinho 
natas ácidas 


Retire o caule dos cogumelos da campânula (que dispõe num tabuleiro) e pique-os, bem como os restantes ingredientes. Encha as campânulas com o recheio obtido e coloque um quadradinho de queijo sobre cada cogumelo. regue com as natas temperadas e leve ao forno.
Sirva quente como entradinha, ou então se quiser uma refeição leve, acompanhe com salada como prato principal.

               

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Sabor com história II (ou outra maneira de dizer EVO)

Continuando este pequena mas sentida trilogia (ler aqui a primeira parte)  volto às mesmas personagens. Ele. Espanhol em Portugal com o amor da sua vida. Em Lisboa. Um reencontro tão aguardado, esperado por longos 12 anos. E é a escutar Pablo Alborán que vos escrevo este post inédito.

Acariciou timidamente a pega da aldraba de ferro antes das três pancadas enérgicas que queria imprimir. Este era o momento. Respirou longamente com todas as emoções tolhidas por um medo absurdo que lhe colava a camisa caqui nas costas.
Esperavam, desde aquele Verão longínquo, o tempo que chegaria e voltariam a estar juntos. Ambos sabiam, no silêncio dos anos, que se repetiria a magia que nenhum sabia explicar.
Apoiou a testa na madeira encerada e cerrou os olhos. Não dormira na noite passada na expectativa do reencontro e depois da longa viagem, agora a arritmia era a maestrina que dirigia o nervoso tamborilar que imprimia com a ponta dos dedos na porta. Mas ela sentira-o e, desassossegada, descerrou as portadas. Olhos nos olhos leram tudo sem falarem nada e antes mesmo de um titubeante “Hola” ou “Entra”, enroscaram-se num apressado e apertado enlace, reconhecendo o molde perene do encaixe perfeito mais apetecido da última década. Demorou acontecer o nano-segundo inefável em que as duas pessoas sabem tacitamente que um abraço terminou: as quatro mãos percorreram costas, roçaram nucas, enovelaram-se nos cabelos, acariciaram lóbulos de orelhas e desceram pelas maçãs dos rostos afadigados numa espera descontente. Continuamente em uno quedaram-se tímidos e o abraço imperecível esboroou-se. Ele disse: “coño, no me mires así” e ela respondeu: “entra mazé”
Tinham falado por telefone a combinar tudo, escrito cartas um ao outro, mas a vida não havia ficado suspensa nesses doze anos que não souberam um do outro.
Ela abriu as portadas e ele segurou os óculos que havia colocado sobre a mala e rodopiou-a pela entrada. Ela sorriu e todos os receios se desvaneceram quando o admirou agora de óculos postos. “A sério que esses são os teus óculos?” Ele, sem perceber, levou a mão livre ao rosto num gesto interrogativo: “mis gafas?” Ela soltou uma gargalhada e resumiu: “anda daí, já te mostro!” Ele seguiu-a rolando a mala distraído até à saleta onde ela foi buscar os seus óculos e os colocou com ar de desafio. Não precisaram palavras. Uma década depois sabiam que tudo era autêntico ao se olharem com um modelito redondo de tartaruga ARMANI exactamente igual. “Pero no me mires así, coño!” brincou de novo, sem lhe ocorrer nada mais.
Esquecida a mala na saleta, ela desajeitadamente lembrou-se de lhe oferecer um café, mas ele só aceitou uma água. E foi sentados frente a dois copos e um jarro que desabaram na conversa bilingue em que contaram os doze anos de ocorrências em suas vidas. Voltaram a encher o jarro diversas vezes durante a longa conversa que durou ininterruptamente durante três dias e três noites. Não comeram, não dormiram, não nada… a conversa tinha de existir, o paralelismo não se limitara aos óculos iguais e fascinados não poderiam deixar de relatar à vez tudo o que fizeram, deixaram por dizer e o quanto desejaram terem construído essa vida que mereciam ter vivido juntos. O cansaço não os venceu e apenas com o jarro de água por companhia, decidiram que deveriam cozinhar alguma coisa. Ela abriu a porta do frigorífico e decidiu num ápice que queria fazer, na primeira vez que cozinharia para ele, o seu bacalhau com natas – algo simples e prático de confeccionar para quem não se alimenta há 70 horas – e a conversa continuou enquanto ambos preparavam os ingredientes com uma dança conjugada como se sempre tivessem cozinhado juntos. Enquanto fazia o molho branco e ele deixava as rodelas finas de cebola esbranquiçarem, ela quase desfaleceu com a fome que se apossou de todo o seu ser depois de tanto tempo sem tão pouco pensarem em se alimentar, e, depois de a sentar e lhe dar mais um copo de água, nesse ténue momento ao seu redor, ele beijou-a pela primeira vez nesta vida.

Receita (do meu) Bacalhau com Natas

2 postas de bacalhau grandes
1 kg de batatas
3 cebolas grandes
1 l de leite
2 pacotes de natas
sumo de 1 limão
2 colheres de sopa de farinha
1 colher sopa de manteiga
azeite e folhas louro
sal, pimenta, noz moscada q.b.

Coze-se o bacalhau, arrefece-se e depois limpa-se de peles e espinhas e separam-se em lascas generosas. Fritam-se as batatas em cubos largos, alourando só. Cortam-se as cebolas em rodelas muito finas e deixam-se em lume brando em azeite,  com uma folha de louro, até esbranquiçarem. Paralelamente vai-se fazendo o molho branco. Junta-se as lascas de bacalhau, tempera-se de noz moscada (eu gosto de colocar uma malagueta) e salteiam-se, só depois as batatas mal fritas e envolve-se para continuar a saltear. Ao molho branco junta-se as natas e reajusta-se o tempero (sal, pimenta, noz moscada e sumo de limão). Deita-se num tabuleiro de forno, rega-se com o molho (eu gosto de o envolver) e vai ao forno meia-hora em forno médio. Deixe o gratinado lourinho.
O tabuleiro pode ir à mesa e acompanhe com uma salada verde (eu gosto de servir apenas alface estaladiça e sem tempero)

Sugestão light? - não frite as batatas, coza-as, vão ser salteadas a seguir...
Sugestão menos light? - Antes de levar a gratinar, esboroe por cima um pouco de miolo de broa de milho, coloque azeitonas e rodelas fininhas de uma boa chouriça. hummmm...

          

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Sabor com história I (ou outra maneira de dizer EVO)

Não poderia escrever esta trilogia de posts sem começar pelos doces regionais portugueses, da zona de Aveiro, que mais amoooooo!!! E como hoje os tenho em casa, é ao sabor doce, doce, doce dos ovos moles de Aveiro e a escutar Chopin que vos escrevo este post inédito.


Ele. Espanhol em Portugal, com o amor de sua vida. Em Aveiro. Conheceram-se em jovens e souberam ainda antes do primeiro olhar que nada iria ser igual. Com o decorrer dos anos, constatou com alguma lástima que o escassear do cabelo era directamente proporcional ao acréscimo de peso e dos problemas de saúde inerentes. Ela ainda fresca e saudável - cuida-se! - Ele com um grave problema de colesterol que não lhe permite as ousadias gastronómicas que nunca conseguiu relegar para um segundo plano. Filho de uma mãe italiana cuja distracção na sua vida de dona de casa abastada sempre fora experimentar a gastronomia de todos os países por onde viajaram e a gabavam de não repetir um prato a cada dia do ano, estava-lhe na massa do seu sangue gordo o prazer de abrir portas à Dona Gula. Ela cuidava-o, aconselhava-o, mas não havia forma de contornar o tanto que ele gostava de queijos e não abdicava da sua matéria 60% gorda... Ela era engenhosa na forma de o cuidar. Ela é o seu quesito (=queijinho em espanhol).
Ela em Aveiro, naquela eterna viagem, quis comprar uma barrica. Afinal é o seu doce favorito! Mas não permitiu que o seu amor provasse sequer uma colherzinha daquele ouro puro que é veneno na contagem de triglicéridos. Ele insistiu, apelou, pestanejou até, fez aquele olhar de cachorrinho sem dono... que não poderia viver sem pelo menos uma vez na vida provar o doce favorito da sua amada! Ela olhou-o nos olhos relevando o dengo e sorrindo, disse: "Uma vez na vida, então." Ele aceitou o desafio sustendo o olhar intenso. Ela riu e inventaricou ali, num momento irrepetível, uma maneira subtil de seu amor saber como os ovos moles são doces sem os provar: mergulhou a sua língua na barrica, inundou a boca com o sabor único que acordou todos os sentidos, e de seguida, beijou-o longamente.
Se me perguntarem ainda hoje a que sabem os ovos moles de Aveiro? Sabem a beijo bom, bom, bom...!! Sabem ao melhor beijo da minha vida.

Receita:

Sendo este um doce regional, muitos podem afirmar que publicam a receita original, mas quer saber? Eu não creio que seja A original... Aqui fica publicado um link da receita mas, na minha modesta opinião, a verdadeira maneira de conhecer esse doce? 

Venha até Portugal, e nessa viagem, mesmo que não vá a Aveiro, em todas as cidades já se vende os doces regionais (oieee? somos um país bem pequeno, viu? Bem menor que qualquer um dos vossos estados!!!) Então, venha a Portugal, prove ovos moles e... sendo o caso, se puder, beije...


domingo, 1 de abril de 2012

Autismo e comida Azul?

Existe comida em tons de AZUL...??? Li num livro sobre personagem autista (oferta da minha amiga Gisela) que o jovem comia por cores e a mãe, à quinta-feira, só lhe fazia comida azul. Fiquei curiosa. A minha primeira ideia foi de repulsa, ou pensar que são só corantes artificiais, mas é um engano. Se fechar os olhos, ocorre-me uma cesta de fruta - blueberries ou mirtilos. E se existe (e é tão bommm), se tem uma cor que tinge tanto, porque não pode haver comida em tons de azul?
Apesar de ser uma cor fria, é uma cor apetecível (pelo menos para mim e para tantas pessoas que adoram a cor azul), consigo imaginar mil combinações de fazer um empratamento definitivamente original, e para os curiosos, que tal experimentarem uma boa novidade?, apesar da estranheza, diria que resulta em convidativo e até apetitoso.

Pensar em arroz azul? Nahhhh só pode ser corante artificial ou photoshop!, mas resolvi pesquisar esta ideia de comida em azul e pasmem!!, descobri este arroz que é obtido da forma mais pura. Na Malásia há um prato chamado Kerabu Nasi (Nasi é um arroz cozido, Kerubi uma mistura de legumes ou seja, significa prato de salada de arroz com legumes, se bem que os legumes utilizados sejam deveras originais por si, para o palato ocidental - receita mais abaixo) acompanhado por um inusitado (aos nossos olhos) arroz azul, que é obtido a partir do de uma flor cujo nome me transportaria a outras histórias e sabores que não são para aqui chamados... Apresento-vos ... a flor Clitoria.
Não duvidem, fui pesquisar na net (fala sério... encontrei muita bobagem com as palavras que joguei no google até que acabei encontrando o que queria), estas flores são usadas como corante natural  neste bonito tom de azul,  e agora já me parece  definitivamente apetecível em alimentos, sabendo que não é corante artificial.
Curiosidade? Sabia que na China os bolos de cor azul (ou kueh) raramente são usados? Porque lá a cor azul significa luto e nos funerais, não oferecem kuehs azuis e brancos para a alma falecida. Assim, nunca faça qualquer kueh tradicional na cor azul e vá de a oferecer a alguma pessoa idosa, se você puder evitá-lo, fica simpático...!! fica a dica.

Devo confessar que não sei exactamente como passam as flores a corantes alimentares, mas calculo que seja receita ancestral que passa certamente por secarem as flores ao sol, e depois de secas, como nesta imagem, fazer uma infusão na água a ferver para que obtenham a cor azul. Já o arroz?, bom, se usar este "caldo" no arroz, numa sopa em outra comida, o que acha que acontece?

Vamos fazer uma Receita de Sopa Clitória?

Sim, é claro, onde arranjaríamos nós o corante natural de flor de clitória? Mas se o tívessemos, eu inventaria uma sopa de legumes básica de courgette, chu-chu, batata, nabo, cebola e dentes de alho (sim, uma base branca para não comprometer a cor lindaaa) e jogaria o corante da flor clitória no final. Na foto está umas raspas de queijo da ilha (açoriano) e, quem sabe,  umas gotas de lima ou de limão e um pouco de pimenta ralada no momento. Afinal, apimentar uma sopa de clitória não me parece nadaaa errado...

Mas vamos à receita de Nasi Kerabu

1 xícara de coco fresco ralado
1/2 xícara de peixe seco (bile ikan)
3 xícaras de arroz cozido (como para sushi)
1 talo de erva-príncipe em fatias finas
1 pedaço de raiz de gengibre em fatias finas (a gosto)
1 pedaço de raiz de açafrão-da-terra em fatias finas (a gosto)
1 pedaço de raiz de galangal, em fatias finas (a gosto)
4 chalotas, em fatias finas
1 molho de folhas de aipo
1 ramo de coentros
1 ramo de hortelã
1 molho de agriões
10 folhas de lima Kaffir
4 colheres de sopa óleo vegetal, mais 2 colheres de sopa para fritar
sal e pimenta qb

Aqueça uma panela grande em fogo muito baixo. Adicione o coco e vá mexendo sempre por 20 minutos. Ele vai se transformar dourar e secar. Deixe esfriar e, em seguida moer com a textura de pão ralado fino em um processador de alimentos ou almofariz/pilão.
Aqueça 2 colheres de sopa de óleo na wok e adicione o peixe seco. Salteie, mexendo sempre, até que fique dourado, será cerca de 5 minutos. Deixe esfriar e corte em pedaços pequenos.
Escolha as folhas dos caules das ervas. Junte as folhas em cachos pequenos, com as folhas lima kefir do lado de fora. Pique finamente em juliana.
Numa tigela grande, misture todos os ingredientes. Tempere os vegetais com o óleo, adicione sal e pimenta a gosto e sirva.
Tinja o arroz branco para azul com corante natural de flor de clitória (a gosto)


E se nesta viagem pela refeição azul acompanhar com chá de clitória e servir para sobremesa sorvete de mirtilo? Conseguiria ou não uma refeição toda toda azul para a personagem autista numa hipotética quinta-feira?



Espero que as pessoas continuem a plantar esta planta linda, e a manter a tradição de usar a flor clitória naturalmente como o corante alimentar por excelência, uma vez que os aditivos azuis na culinária me parecem perigosos, aliás, na minha pesquisa constatei que nomes como azul claro e anil correspondem a muitos EEEE's (nunca sabemos o que ingerimos, não é?) uma vez que só de aditivos azuis existem assustadoramente mais de 130 EEE's e sim, em muito países a legislação proíbe-os, porque são considerados cancerígenos.


Pessoalmente? Bom....... A simples ideia de uma trepadeira verdejante de flores azuis numa casinha de portadas azuis fascina-me, apazigua-me a alma. Encanta-me a ideia de romantizar e eternizar em algum livro,  uma família com pessoa com autismo que more numa casa caiada de branco com uma trepadeira com flores azuis e que estranhamente fazem sopa azul ao serão.

E porque hoje falo de comida Azul??
Azul. A cor que alguém convencionou para representar o Autismo. O Autismo é a disfunção global do desenvolvimento com maior crescimento no mundo. No mundo, a ONU estima que 67 milhões de indivíduos em todo o Mundo sejam afectados pelo Autismo. Na maioria dos países o Autismo é mais comum que doenças oncológicas, diabetes e HIV juntos. Você sabia?


Encorajamos a todos bloguistas, publicar um post AZUL dia 2 de Abril, a acender uma luz na janela de sua casa, em seu emprego em azul, a vestir-se de azul, a pintar as unhas de azul, ou a fazer comida azulzinha!!!, mas a parar, um dia só que seja do ano em sua vida, e reflicta sobre uma perturbação que, a ser reconhecida na rua, por quem por nós passa, faria a vida destas pessoas e suas famílias muito mais simples.
Obrigada por um gesto que até é simples, tal como a população autista que conheço me tem vindo a ensinar a dar importância ao que tem valor na vida - o SIMPLES.