sábado, 12 de janeiro de 2013

Allie e Zoe

por Ana Martins © 

Allie, a borboleta irreverente, queria ter brilhantes pintinhas em azul e verde, queria crescer com brilho holográfico quando adejasse sob o sol – já na sua crisálida materna era o seu desejo. Mas quis a mãe natureza e seus genes que fosse apenas azul. Allie mirava sua irmã Zoe, a borboleta acomodada, esvoaçando fosca, trajada de verde lima sobre o rectângulo verde intenso do relvado. Sabia-se mais vistosa, mas nada era suficiente no reino vegetativo do campo a que não dava a menor bola, queria porque queria um manto holográfico que a cobrisse de brilho e a cada movimento captasse todo o espectro resplandecente do arco-íris. Almejava que o clamor do aplauso fosse para si, não para um qualquer time que se apresentasse no relvado. Não compreendia como Zoe se sentia feliz adejando sem parar quase desaparecendo sobre a vegetação, sem destaque, colorido ou luminosidade. Contudo, amava-a.
Um dia aventurou-se e voou para fora do limite quadrado que sua pequena vida tinha, e entrou no portal de uma tribo discobóllica.
Depois de esvoaçaricar dia e noite embriagada sob tanta holografaricagem, uma noite mais taciturna voltou no rectângulo verde e procurou sua irmã. Incitou Zoe para a acompanhar, contando-lhe de suas aventuras, sensações e emoções. E sim, confessando-lhe por fim que tanto brilho sem a doce companhia de sua amada Zoe, jamais seria uma comoção plena, que desejara muito que o mesmo véu de felicidade holográfica as abraçasse, mas que principalmente voassem juntas para a eternidade. Zoe sorriu e revelou não sentir o anelo de exposição vital como sua irmã, mas como toda a saudade que sentira de Allie, isso sim, a corroía. Abraçaram-se enternecidas e juntas partiram adejaricando rumo a um novo portal.